- Porque é que um corvo se parece com uma escrivaninha?
- (...) Acho que sei adivinhar essa.
- Tu queres dizer que pensas que és capaz de descobrir a resposta a esta adivinha? - disse a Lebre de Março.
- É exactamente isso - respodeu Alice.
- Então deves dizer o que queres dizer - continuou a Lebre de Março.
- Eu digo o que quero dizer - respondeu muito depressa Alice -, pelo menos... pelo menos... quero dizer aquilo que digo, o que vai dar tudo ao mesmo, sabes?
- Não vai nada dar ao mesmo! - disse o Chapeleiro. - É como se estivesses a dizer que «eu estou a ver aquilo que como» é o mesmo que «eu como aquilo que estou a ver»!
- E é também como se dissesses - acrescentou a Lebre de Março - que «eu gosto daquilo que tenho» é a mesma coisa do que «eu tenho aquilo que gosto»!
- Também podias afirmar... - disse o Arganaz, que parecia estar a sonhar alto - que «eu respiro enquanto durmo» é a mesma coisa do que «eu durmo enquanto respiro»! (...)
- Já sabes responder à adivinha? - perguntou o Chapeleiro, voltando-se outra vez para Alice.
- Não, eu desisto - respondeu Alice. - Qual é a resposta?
- Não faço a mais pequena ideia - disse o Chapeleiro
- Eu também não - disse a Lebre de Março.
Alice suspirou, aborrecida.
- Acho que vocês podiam aproveitar melhor o tempo do que andar aí a gastá-lo em adivinhas sem respostas.
- Se conhecesses o Tempo tão bem como eu - disse o Chapeleiro, - não falavas nesse tom. O Tempo não é uma coisa qualquer, é uma pessoa de respeito. (...) Ora, se tu conseguires estar em boas relações com o Tempo, ele deixa fazer ao relógio quase tudo o que tu quiseres. Por exemplo, supõe que eram nove horas da manhã, mesmo horas de começarem as aulas: bastaria fazeres um sinal ao Tempo e o ponteiro do relógio daria uma série de voltas num abrir e fechar de olhos: uma e meia, hora do almoço!
(«Quem me dera que fosse verdade», disse para consigo a Lebre de Março, num murmúrio.)"
Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol
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